DEZEMBRO LARANJA
Publicado em: 08/12/2020, 17:08
Dezembro foi o mês escolhido pela Sociedade Brasileira de Dermatologia para a conscientização do câncer de pele. A Campanha “Dezembro Laranja” se iniciou no ano de 2014. Desde então, diversas ações em parceria com instituições públicas e privadas são desenvolvidas no intuito de informar a importância da prevenção, do diagnóstico e do tratamento dessa enfermidade.
É de extrema importância que se conheça o próprio corpo, de modo que qualquer mudança persistente na pele, como manchas e feridas que não cicatrizam, chamem a atenção e levem à procura por um dermatologista a fim de que, se for o caso, o diagnóstico e o tratamento sejam precoces. Quanto antes o câncer de pele é identificado, maior a eficácia do tratamento e melhor o prognóstico.
Para o diagnóstico e o tratamento do câncer de pele, o DB Patologia inclui em seu portfólio exames anatomopatológicos, citológicos, imuno-histoquímica e moleculares.
Câncer de pele
O câncer de pele é o mais comum no mundo e as taxas de incidência, de mortalidade e de morbidade dele vêm aumentando ao longo dos anos. Isso o torna um grande problema de saúde pública mundial.
Além de seus subtipos, é dividido em dois grupos principais: o melanoma e os do tipo não melanoma. No Brasil, os do tipo não melanoma correspondem a cerca de 30% de todos os tumores malignos do país. Em contrapartida, são os de menor mortalidade. Já o melanoma, corresponde a apenas 1% dos casos de câncer de pele e é a causa da maioria das mortes pela doença. O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que, de 2020 a 2022, haja cerca de 8.450 novos casos diagnosticados a cada ano no Brasil.
Câncer de pele não melanoma
Felizmente, os carcinomas de pele não melanoma, quando diagnosticados precocemente, têm como característica um alto potencial de cura. Com evolução lenta e baixo poder metastático, a descoberta tardia e a ausência de tratamento podem levar os pacientes a desfechos traumáticos, como mutilações.
A origem está na divisão anormal das células que compõem a pele. De acordo com o tipo de célula afetado, são definidos seus subtipos, sendo os dois principais: Carcinoma basocelular (CBC) e carcinoma epidermoide ou espinocelular (CEC). O CBC tem maior incidência e menor gravidade. Já o epidermoide, por sua vez, tem maiores chances de metástase, se comparado ao CBC.
O CBC acomete as células basais, que constituem a camada mais profunda da pele. É mais frequente em regiões expostas ao Sol: face, ombro e costas. Mais raramente, pode se desenvolver em regiões não expostas.
O CEC é o segundo tipo mais comum entre os tumores de pele, manifestando-se nas células escamosas constituintes das camadas mais superiores da pele. Além da exposição aos raios ultravioleta (UV), pode estar associado a feridas crônicas e cicatrizes.
Fatores de risco
Os principais fatores de risco para câncer de pele não melanoma são: idade acima dos 40 anos; pele, olhos e cabelos claros; histórico de doenças cutâneas; histórico pessoal ou familiar de câncer de pele e, principalmente, a constante exposição aos raios UV. É importante ressaltar que, nesses tipos de carcinoma, a exposição crônica ao Sol (ao longo da vida) está mais associada a eles do que exposições agudas que causam queimaduras.
Sinais e sintomas
O câncer de pele não melanoma pode apresentar como sintomas manchas na pele com prurido e ardência, e feridas que não cicatrizam em até quatro semanas. A depender de seu subtipo, pode apresentar diferentes características, como as manchas similares a verrugas em CEC ou pápulas avermelhadas com crostas centrais em alguns casos do CBC.
Diferentes manifestações clínicas de lesões do carcinoma do tipo basocelular (CBC).
Carcinoma espinocelular (CEC)
Melanoma
Devido ao alto poder metastático, o melanoma é um dos tipos mais agressivos de câncer de pele e uma das maiores causas de morte relacionadas ao câncer. O diagnóstico tardio pode levar a metástases envolvendo o sistema nervoso central e os pulmões. Mas, apesar de sua gravidade, o diagnóstico precoce possibilita um bom prognóstico e grandes chances de cura.
O melanoma se origina nas células produtoras de melanina, os melanócitos. A maior incidência desse tipo é em adultos de pele clara, podendo acometer qualquer parte do corpo.
Fatores de risco
O principal fator de risco do melanoma é a exposição aos raios UV. A exposição aguda ao Sol (típico de queimaduras) é bastante associada ao seu desenvolvimento. O risco é muito maior quando comparado a padrões de exposição contínua, ao longo da vida, padrões esses mais relacionados aos do tipo não melanoma.
Sete a 15% dos melanomas ocorrem em pacientes com histórico familiar, o que evidencia os fatores genéticos envolvidos. Estudos demonstram a associação da Síndrome de Lynch e mutações nos genes CDK (cyclin-dependent kinase) como alguns fatores genéticos associados. As mutações nos genes BRAF, NF1 e NRAS são apontadas como as principais alterações genéticas do melanoma.
Nevos melanocíticos são lesões planas ou elevadas (pintas) de coloração variada que podem ser congênitas ou adquiridas ao longo da vida. Apesar de, na maioria das vezes, serem totalmente benignos, a presença deles pode ser considerada como um fator de risco importante para melanoma, pois cerca de 25% dos casos se originam de nevos pré-existentes. É importante ressaltar que os subtipos de melanoma podem se desenvolver de diferentes lesões precursoras, envolvendo diferentes mutações genéticas. Como exemplo, citam-se as mutações nos genes BRAF, que estão presentes em mais de 80% dos nevos. No entanto, somente essas mutações não têm potencial para que a lesão progrida para a malignidade. Quando essa progressão ocorre, há o envolvimento de outros oncogenes.
A superexpressão das matrix metaloproteinases (MMPs) favorece a invasão e a infiltração do tumor, o que explica o alto poder metastático e o comportamento agressivo do melanoma. As proteínas MMP-9 e MMP-2, particularmente, induzem a degradação da matriz extracelular, favorecendo a infiltração e a metástase via corrente sanguínea.
Mutações somáticas no gene BAP-1 são importantes fatores de predisposição para vários tipos de câncer hereditário e têm uma forte ligação com o melanoma. A BAP1, tumor predisposition syndrome (BAP1-TPDS), é uma síndrome recentemente reconhecida como fator de risco, relacionada a essas mutações, indicando a predisposição a diversos tipos de tumores, incluindo subtipos do melanoma e CBC.
Leia também nosso artigo: ESTUDO IMUNO-HISTOQUÍMICO PARA BAP1 − QUANDO UTILIZAR?
Sinais e sintomas
O câncer de pele melanoma pode surgir na pele normal, com o aparecimento de pintas escuras com bordas irregulares. Também pode se originar de uma mancha pigmentada pré-existente, na qual se observam aumento no tamanho e mudanças na forma e na coloração.
Lesões ou pintas com Assimetria, Bordas irregulares, Cor variável, Diâmetro maior que 6 mm e Evolução (mudanças no tamanho, na forma e na cor) são consideradas como sugestivas para o melanoma e a presença delas deve chamar a atenção para a procura por um dermatologista. Essas características fazem parte da regra do “ABCDE”, que é adotada internacionalmente.
Melanoma, exibindo lesão na planta do pé.
Mitos e verdades sobre o câncer de pele
Toda mancha escura na pele é um tumor ou evolui para câncer de pele.
Mito: Apesar de lesões pigmentadas (os nevos, por exemplo) poderem progredir para melanoma ou já se tratar de um tumor de pele, existem muitos casos de manchas que mimetizam o câncer de pele. O próprio nevo nem sempre tem potencial para a malignidade, pois apenas 25% dos casos de câncer se originam de nevos melanocíticos. No caso do surgimento de lesões, procure sempre um dermatologista.
Procedimentos a laser aumentam o risco do desenvolvimento de câncer de pele.
Mito: O uso de terapias à base de laser é utilizado há anos e não há nenhuma evidência de danos à pele. A luz emitida é totalmente diferente da UV. Há estudos que demonstram o alívio de sintomas em tratamentos paliativos do melanoma à base de laser.
Pessoas com pele, cabelo e olhos claros têm maior risco de desenvolver câncer de pele.
Verdade: A melanina tem um efeito fotoprotetor, por isso quanto menor a quantidade produzida, aliada à exposição aos raios UV, maior é a susceptibilidade para desenvolver câncer de pele. A incidência de câncer de pele em pessoas negras é bem menor. O melanoma, por exemplo, é 20 vezes mais frequente em pessoas brancas. Quando ocorre em negros, é mais comum em áreas mais claras, como palma das mãos e planta dos pés.
Melanoma pode se originar em qualquer região do corpo.
Verdade: Considerando a existência de fatores genéticos no processo de desenvolvimento do melanoma, as lesões podem ocorrer em qualquer parte do corpo mesmo que não expostas ou poucos expostas ao Sol, como genitais, glúteos e couro cabeludo.
Câncer de pele não acomete pessoas jovens.
Mito: A exposição precoce e repetida aos raios UV faz com que indivíduos cada vez mais jovens desenvolvam câncer de pele. O melanoma, em particular, embora acometa em sua maioria indivíduos com 40 anos ou mais, é um dos tipos de câncer mais comuns em pessoas com menos de 30 anos, sobretudo nas mulheres.
Queimaduras podem evoluir para câncer de pele.
Verdade: O tumor de pele pode se desenvolver de cicatrizes de queimadura. Infecções e traumatismos nessas áreas, aliadas ao agente causador da queimadura, são fatores que podem levar ao processo de desenvolvimento do câncer.
Não existe câncer de pele hereditário.
Mito: Apesar da exposição aos raios solares ser a principal causa do câncer de pele, alterações genéticas hereditárias são fatores de risco. O histórico familiar deve sempre servir de alerta. Não deixe de comunicar esse fato ao seu dermatologista.
Tratamento do câncer de pele
O ideal é que o diagnóstico e o tratamento do câncer de pele ocorram o mais precocemente possível, inclusive nos tipos de menor gravidade, por haver possibilidades de cura bem maiores.
Os tratamentos variam de acordo com o tipo e a extensão do tumor. No caso dos não melanomas, em geral, são tratamentos cirúrgicos ou procedimentos a laser.
O tratamento do melanoma também pode ser cirúrgico, a depender da extensão, da agressividade e da localização do tumor. Os casos metastáticos não têm cura. A evolução dos métodos terapêuticos, no entanto, pode proporcionar maior sobrevida e melhor qualidade de vida aos pacientes. Os testes moleculares são extremamente importantes nesses casos, pois possibilitam a escolha adequada do tratamento, de acordo com o perfil genético do tumor.
Diagnóstico
A primeira forma diagnóstica empregada para o câncer de pele é o exame clínico, no qual o dermatologista avalia as camadas de pele. Porém, é o exame anatomopatológico que confirma o diagnóstico, pois avalia a extensão da lesão e o acometimento tecidual. As amostras são obtidas por biópsias ou cirurgias. Nos casos de metástase, o médico pode solicitar biópsia de linfonodos ou de outras regiões. Nesses casos, os exames citopatológicos podem ser importantes ferramentas auxiliares ao diagnóstico.
Apesar do anatomopatológico ser o exame confirmatório, nem sempre é suficiente para a identificação do melanoma. Muitas vezes, pode mimetizar neoplasias, como sarcomas e linfomas. Nesses casos, a imuno-histoquímica auxilia o patologista na interpretação diagnóstica. Existem diversos marcadores utilizados no estudo imuno-histoquímico, sendo os principais: S100, Melan A; HMB-45 e SOX10.
Os exames moleculares, como já mencionado, são extremamente importantes tanto no diagnóstico como na predição de tratamento do melanoma. A identificação de determinados oncogenes podem significar o aumento da proliferação celular, as falhas nos mecanismos de checagem das células, entre outros mecanismos. Mutações nos genes BRAF, KRAS, NRAS, BAP1 e CDK são alguns dos importantes biomarcadores do melanoma.
Melanoma metastático com positividade para HMB-45
Marcação de células do melanoma, por Melan A.
Conheça os exames do portfólio DB relacionados ao diagnóstico e/ou predição de tratamento do câncer de pele.
REFERÊNCIAS
AMERICAN CANCER SOCIETY. Melanoma skin cancer stages. Disponível em: https://www.cancer.org/cancer/melanoma-skin-cancer/detection-diagnosis-staging/melanoma-skin-cancer-stages.html. Acesso em: nov. 2020.
AUSTIN E et al. Laser and light-based therapy for cutaneous and soft-tissue metastases of malignant melanoma: a systematic review. Arch Dermatol Res. 2017 May. 309 (4): 229-42.
BARTON V et al. Nonmelanoma skin cancer and risk of all-cause and cancer-related mortality: a ystematic review. Arch Dermatol Res. 2017 May; 309 (4): 243-51.
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER. Tipos de câncer: câncer de pele não melanoma. Disponível em: https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer/cancer-de-pele-nao-melanoma. Acesso em: nov. 2020.
LEONARDI GC et al. Cutaneous melanoma: from pathogenesis to therapy (Review). Int J Oncol. 2018 Apr; 52 (4): 1071-80.
MASOOMIAN B, SHIELDS JA, SHIELDS CL. Overview of BAP1 cancer predisposition syndrome and the relationship to uveal melanoma. J Curr Ophtalmol. 2018 Jun; 30 (2): 102-09.
NARAYANAN DL, SALADI RN, FOX JL. Ultraviolet radiation and skin cancer. Int J Dermatol. 2010 Sept; 49 (9): 978-86.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA DERMATOLÓGICA. Nevos e pintas. Disponível em: https://www.sbcd.org.br/cirurgia-dermatologica/o-que-e-cirurgia-dermatologica/para-sua-pele/nevos-e-pintas/. Acesso em: nov. 2020.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOPATOLOGIA. Dezembro laranja. Disponível em: https://www.sbd.org.br/dezembroLaranja. Acesso em: nov. 2020.