Do pesadelo à possibilidade de voltar a sonhar
Publicado em: 31/10/2022, 18:03
Receber o diagnóstico de uma doença é sempre muito difícil e desesperador, principalmente quando se trata de uma doença grave. Os dias que antecedem ao resultado são intermináveis e torturantes. E com a Ana Paula de Farias Gussão não foi diferente. Aos 38 anos, ela foi surpreendida com um diagnóstico que marcaria a sua vida para sempre.
Criteriosa com a sua saúde, Ana sempre se cuidou e se esforçava para manter seus exames de rotina em dia. Em 2005, descobriu um nódulo no seio, sem características de malignidade, mas algo que teria que acompanhar, com mais atenção, principalmente, a partir dos 30 anos de idade. Além de entender a importância e dimensão do autoexame, que também mantinha com frequência, anualmente fazia a mamografia, uma atitude de muita responsabilidade, que mais que prevenir a doença é salvar a vida.
Foram anos acompanhando, sem nenhuma alteração, até que, em 2018, em um desses exames preventivos, constatou que o nódulo tinha crescido. E, então, Ana se viu diante de uma situação que era temida, porém nova, e teria que lidar com o assustador POSITIVO. “Recebi o resultado e sem entender nada eu li: positivo para estrogênio e estradiol. Mais que depressa corri contar para minha chefe que, por acaso, era médica. Me lembro bem que entrei no consultório falando ufaa!!, achando que podia ser algo hormonal, nada demais. Mas quando entrei e olhei pra ela com meu exame nas mãos, com os olhos cheios de lágrimas, foi muito tenso. Eu perdi o chão”, lembra.
A partir desse momento, dias difíceis marcaram a história e a trajetória de luta de Ana por sua saúde e sobrevivência, sim, sobrevivência, porque agora era uma questão de lutar pela vida, por ela e por aqueles que amava. “As pessoas costumam ficar muito sensibilizadas com uma notícia dessas”. Casada há 9 anos e mãe da Laura, de 8 anos, ela teve que buscar forças rápido para começar essa batalha o quanto antes. “Todos me acolheram, me encheram de carinho. Fui muito amada nesse período”, comenta.
Em praticamente um mês, já fez a cirurgia de retirada e deu início ao tratamento, que incluía sessões de radioterapia e medicamentos. “Foi um momento da minha vida que, por mais medo que tivesse por não saber como seria ou o que estaria por vir, também percebi que tudo se faz novo e que Deus sempre está com você, cuidando de tudo”, lembra com emoção.
Foram longos dois anos de tratamento em que se pegava por muitos momentos pensando que nunca mais estaria livre. Hoje, 4 anos após a cirurgia, aliviada, pode respirar mais tranquila e dizer que é grata por ter vencido. “Depois do susto, disse pra mim mesma que aquilo não era meu, e que, dá mesma forma que apareceu, ele também iria embora, porque eu tinha fé”. Ana voltou a idealizar um futuro e, atuando como podóloga, sonha em ter seu próprio consultório, além de planejar viajar mais com sua família.
Sobre ser uma pessoa muito melhor depois de passar pelo câncer, é estranho quando ouvimos essa expressão, principalmente pelo que a doença representa, pelo peso que esse nome tem. Mas é exatamente sobre isso. Foi assim que Ana Paula definiu sua passagem pela doença: “O câncer te faz viver coisas que você nem imagina viver um dia. E depois de tudo ter passado, você encontra forças que nem imaginava ter. Eu, por exemplo, criei coragem para correr atrás de um sonho que se arrastava há mais de 10 anos que era o de cursar Podologia”.
Ana conta que foi fazer o vestibular para o curso após ter feito a última sessão de radioterapia. “Saí do hospital direto para a faculdade! Eu chamo isso de vontade de mostrar que estou viva, sou capaz e graças a Deus por isso”, relembra com um sorriso no rosto.
Prevenir salva vidas
Já foi comprovado que o diagnóstico precoce aumenta as chances de cura em até 95%, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). Por isso a insistência em reforçar a importância de se cuidar, fazer o autoexame e começar a realizar os exames regularmente.
O recomendado é que essa investigação seja mais cuidadosa a partir dos 50 anos de idade, segundo indicação do Ministério da Saúde e do próprio INCA, apesar de muitas sociedades médicas brasileiras, serem favoráveis que se comece mais cedo esse rastreio.
Assim como no caso da Ana Paula, que teve seu diagnóstico de câncer de mama aos 38 anos, tem sido cada vez mais crescente o número de diagnósticos entre mulheres jovens. De acordo com uma matéria do jornal Folha de S.Paulo, publicada em outubro deste ano, um estudo realizado no ICESP, Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, indica um aumento considerável na incidência de novos casos de câncer de mama em mulheres abaixo dos 40 anos.
Segundo os pesquisadores, isso pode ser observado também em outros países, o que faz aumentar a preocupação com a necessidade de rever essas estratégias de prevenção para com as mulheres desse grupo, com menos de 40 anos de idade.
Por isso, é importante que as mulheres em geral mantenham suas consultas ao ginecologista regulares e estejam atentas aos sinais do seu corpo. Ana estava atenta e conseguiu perceber a doença logo no começo, o que possibilitou um tratamento até a cura. “Não seja negligente com a sua saúde. Afinal, ela é tudo que você tem”, ressalta.
Da prevenção ao tratamento, (se for o caso), existe uma gama de exames e tecnologias avançadas que auxiliam e garantem à mulher um importante aliado no cuidado com a sua saúde. O médico pode solicitar exames de imagem, como mamografia, ultrassom, ressonância magnética ou biópsia da mama, de acordo com cada caso. E ainda existem procedimentos capazes de detectar a concentração de proteínas específicas no sangue que, dependendo da sua dosagem, podem indicar a doença. Cada um desses exames têm finalidades específicas, a solicitação fica a critério do médico e vem auxiliar no direcionamento quanto às possibilidades do diagnóstico.