Por minha vontade de viver
Publicado em: 14/10/2022, 17:02
Não há para onde correr quando a vida deixa um sinal de que algo não está bem. Esteja no menor detalhe, você sempre precisará enfrentar o medo se sua vontade de vencer for maior. Lécia Maria Veloso Bertolini, de 64 anos de idade, sente sede pela vida, sua garra e positividade pode ser percebida para além das entrelinhas.
Lécia Maria é divorciada e mãe de dois filhos. Como empresária do ramo de moda, sempre foi uma mulher muito vaidosa e de sorriso fácil, tem muitas amizades e é presença constante nas mídias locais.
Mas nem tudo sempre foram flores. Em 2002, aos 44 anos, teve no passaporte da vida o carimbo doloroso para um destino incerto, ao descobrir um nódulo em um dos seios. Embora pudesse ser benigno, e estar relacionado a diversos fatores, também poderia ser um indicativo de algo mais grave, como o câncer de mama e, por esse motivo, precisava ser investigado.
Preocupada com sua saúde, Lécia sempre soube o quanto é importante realizar os exames preventivos contra o câncer, por isso, frequentava seu médico regularmente e mantinha o hábito de fazer o autoexame em casa. O ato simples de apalpar os seios durante o banho ou em frente ao espelho, a permitia conhecer bem o próprio corpo e observar qualquer alteração.
Foi no autoexame, durante o banho, que ela sentiu o caroço e não hesitou em procurar ajuda profissional. Seu maior medo era o fator hereditário na família, já que sua mãe e tias tinham vivido o diagnóstico anos antes e a possibilidade de descartar a doença era quase nula. No entanto, se descobrisse o câncer de mama no estágio inicial, a chance de cura seria bem maior. “Foi uma fase muito difícil. Quando eu senti o nódulo no autoexame, era muito pequeno, uma bolinha dura, mas tive a intuição de que era câncer”, lembrou.
A descoberta do câncer
Quando Lécia marcou o exame, foi tomada pela insegurança e o medo, a partir de então, foi uma corrida contra o tempo. Cada minuto era uma gota a cair em um mar de incertezas que teria de mergulhar em busca da cura. O que faria se realmente houvesse a confirmação? Como seria sua vida daqui para a frente? Todos ao seu redor teriam pena? Tudo passava pela sua cabeça. Não conseguiu conter as lágrimas, mas havia sua família, seus filhos, e a preciosidade da vida lhe dando a oportunidade de lutar.
O médico foi solícito, tentou tranquilizá-la, disse que iriam marcar a biópsia para dali há alguns dias. Mas ela não poderia esperar, com receio e a intuição forte martelando em sua mente de que era cancerígeno, fez de tudo para que a data da operação fosse agendada o quanto antes, e conseguiu para a semana seguinte da consulta. “Por isso, a necessidade de correr contra o tempo. Só na hora da cirurgia iríamos saber se era benigno ou maligno”, explicou ela.
E o que ela mais temia, aconteceu, aquele positivo que não se deseja a ninguém. A suspeita de câncer foi confirmada dias depois na biópsia por congelamento, também conhecida como per-operatório, realizada durante a cirurgia de quadrantectomia, onde foi feita a coleta e o congelamento do nódulo para saber de imediato sua severidade. Os médicos constataram que era maligno. “Era muito pequeno, mas muito agressivo. Então, para evitar que se espalhasse para o sangue, foi feito um esvaziamento axilar para remoção de todos os linfonodos”, contou.
A importância do diagnóstico precoce
Lécia só soube que o nódulo era maligno, quando saiu da cirurgia. Ao receber a confirmação do diagnóstico, a sensação de dor e medo do que poderia vir pela frente tomou conta. Mesmo após retirado o nódulo, precisaria enfrentar os tratamentos para inibir o reaparecimento do tumor e acabar com quaisquer resquícios de células cancerosas que não são removidas com a cirurgia.
O autoexame é muito importante para o descobrimento de sinais visíveis nas mamas, servindo de instrumento para que as mulheres possam conhecer seu corpo e identificar a presença da doença. Porém, o autoexame não é suficiente, pois o nódulo pode estar muito maior. Portanto, a visita a um especialista e a realização de exames para ter diagnóstico precoce são fundamentais.
“Parece que… não sei… a gente encontra uma força dentro da gente que é inexplicável. Então, começou a minha luta, porque o meu tumor foi para análise. Como descobri muito rápido, era pequeninho, mas de uma agressividade e eu já estava com oito linfonodos contaminados que estavam indo para corrente sanguínea.”, explicou.
Não queria que ninguém sentisse pena dela, e embora o susto fosse grande, a ficha caiu rápido, mas não se deixou abater em nenhum momento. Foi corajosa, havia dado um passo muito importante. Sua força, autoestima e a vontade de vencer a luta a deixaram confiante. Ela sempre esteve alerta, justamente pela história na família, da sua mãe e tia, que haviam sofrido com a doença, mas felizmente, ambas haviam vencido e agora era a vez de Lécia sair vitoriosa!
Somente um mês após a recuperação da cirurgia de quadrantectomia, que pode dar início aos tratamentos indicados pelo médico oncologista. “São fases que o paciente vai passar. Na fase da quimioterapia, pensei: vou ficar careca! O que eu faço? Mas nada disso importa. O que importa é ter pensamento positivo e falar que você vai vencer”, ressaltou Lécia. E, assim, foram longos sete meses de quimioterapia e radioterapia.
A chegada da cura
“O meu câncer faz mais de vinte anos. Se você correr atrás logo no início, você consegue. Ainda mais hoje que a medicina está muito mais moderna”. Depois que parou com as terapias, Lécia continuou tomando remédio por cinco anos e manteve acompanhamento médico a cada seis meses. Foi um período de muita insegurança, porém, o fato de manter pensamentos positivos fez com que o percurso em direção a cura se tornasse mais leve, pois sempre esteve decidida, do princípio ao fim, a “lutar, lutar e lutar incondicionalmente por sua vida”.
Além de alimentar sua força interior, a presença e apoio da família e amigos foram essenciais para superar a doença. “Recebi o apoio dos meus pais o tempo todo. Mamãe não saiu do meu lado durante todo o tratamento”, contou feliz. Ela recebeu carinho de todos, que de alguma forma estavam torcendo pela sua recuperação.
Após a longa luta, enfim ela recebeu a notícia de que havia sido curada. “Foi uma notícia maravilhosa”, disparou Lécia. Desde então, se passaram vinte e quatro anos, a doença não a pertence mais e tudo o que resta agora é o alívio e a escolha de viver feliz.
“Só estou viva hoje porque me cuido, durmo e acordo cedo, faço ginástica regularmente. O principal é cuidar da saúde!” Além disso, Lecia mantém a rotina regular de cuidados médicos. “Todo cuidado é necessário, faço check up anualmente. E sinto uma vontade de viver, ser sadia e trabalhar!”, afirmou ela.
De tudo isso fica o aprendizado que tanto ouvimos e lemos por aí, a importância de se estar atenta aos sinais do seu corpo, ainda que pequenos sinais. Se Lécia Maria não se atentasse aos sinais palpáveis do câncer de mama e não procurasse ajuda, teria sido mais um ponto final entre mais de 450 mil histórias de mulheres, que fecham seus olhos para a vida todos os anos. Felizmente, ela escreveu um novo capítulo.